domingo, 17 de agosto de 2014

Eduardo Campos é sepultado e PSB apressa redefinição da chapa

Governador de Pernambuco afirma, em entrevista, que é preciso dar continuidade ao projeto de país lançado pelo presidenciável; viúva esteve muito ao lado de Marina Silva
por Hylda Cavalcanti, enviada especial da RBA publicado 17/08/2014 21:06, última modificação 17/08/2014 22:15
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Fernando Frazão/Abr
Campos cemitério
Entre as 160 mil pessoas estimadas pela PM presentes ao funeral, alguns procuraram pontos mais altos para assistir ao enterro de Campos
Recife – Muitas pessoas ainda se concentram nas imediações do portão do cemitério de Santo Amaro ou caminham pelas ruas do centro do Recife para chegar até os locais onde estão estacionados carros e ônibus, depois do sepultamento do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
A estimativa da Polícia Militar, que interditou diversas áreas para passagens de veículos, é de liberação das ruas aos poucos, de forma a amenizar o trânsito desta noite, que promete ser grande – sobretudo, em razão da volta de muitos ônibus que conduziram moradores de municípios mais distantes de Pernambuco até o local, para render as últimas homenagens a Eduardo. E, também, porque os cálculos iniciais são de que o funeral foi acompanhado por um público de 10 mil pessoas a mais que o previsto, totalizando cerca de 160 mil pessoas.
Sepultado há pouco em meio a muitos fogos de artifício e ao grito de “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro” – que foi estimulado pelo filho mais velho, João, e repetido pela esposa, Renata – o presidenciável, falecido num trágico acidente na última quarta-feira (13), teve o corpo depositado ao lado do túmulo do avô, Miguel Arraes de Alencar.
A cerimônia contou, no momento final, com cenas tão intensas quanto durante a chegada do caixão na base aérea, no final da noite de sábado (16).

Renata e Marina

O velório foi encerrado com músicas tidas como as preferidas de Eduardo Campos, interpretadas por vários cantores pernambucanos, dentre os quais Alceu Valença, Maciel Melo e Petrúcio Amorim, além do hino de Pernambuco. Uma dos estrofes, que diz "Pernambuco, imortal, imortal", foi trocado por "Eduardo, imortal, imortal". Também, foi incluída por Valença, na última hora, a música “Madeira que Cupim não Rói”, uma das marcas das campanhas do ex-governador, o que levou vários correligionários aos prantos.
Chamou a atenção da multidão o fato da esposa de Eduardo Campos, Renata, ter seguido no carro do corpo de bombeiros junto com o caixão, ao lado da candidata pelo PSB à presidência, Marina Silva, os filhos, a sogra e o candidato de Campos ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara.
O gesto soou como uma mensagem explícita de retomada da campanha eleitoral com o apoio da família, após a tragédia que vitimou o ex-governador. E provocou na multidão gritos que soaram como de campanha, como “Ina, Ina, Ina, Renata e Marina”, numa alusão à possibilidade da esposa de Eduardo Campos vir a ser a candidata a vice-presidente na chapa.

Sem candidatura

No meio do caminho até o cemitério, por intermédio do cunhado, Antonio Campos, Renata, que evitou dar entrevistas, mandou avisar que a família continuará, sim, na política, até numa forma de homenagem ao marido (referindo-se a ela, os filhos e a sogra, a ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes), mas garantiu que não será candidata e que a prioridade, no momento, é cuidar dos filhos, principalmente os mais novos: José, de 9 anos, e Miguel, de sete meses).
Renata, dando continuidade à atitude demonstrada desde a notícia do acidente, tomou a frente das homenagens e, quando o caixão do esposo foi retirado do carro do Corpo de Bombeiros, seguiu caminhando ao lado do carrinho elétrico que conduziu o corpo do marido até o túmulo, ao lado dos filhos.
Como ocorreu ao longo do dia, muitas pessoas passaram mal e precisaram ser atendidas ou retiradas do cemitério. Outras se amontoaram em cima de árvores para ver o sepultamento do ex-governador. Os que conseguiram chegar mais perto da família e dos políticos depositaram fotos diversas de Eduardo Campos ao lado do avô, Miguel Arraes, que foram deixadas junto do caixão. Flores foram jogadas no túmulo.

Projeto continua

“Vamos dar continuidade ao projeto que Eduardo pensou para o Brasil e não abriremos mão disso”, afirmou, numa entrevista em clima de despedida, após o sepultamento, o governador de Pernambuco, João Lyra. “Vai-se uma pessoa que poderia mudar o país”, disse em outro local do cemitério o líder do PSB no Senado, senador Rodrigo Rollemberg (DF).
Conforme avisou nos últimos dias o vice-presidente nacional do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral, com o término do funeral de Eduardo Campos a legenda começa a definir, de fato, os rumos da campanha depois da perda do presidente e candidato.
A primeira reunião ocorre nesta segunda-feira (18), às 10h, em Recife, e contará com a presença de Renata Campos. Se estenderá em encontros no Rio de Janeiro e em Brasília, na próxima quarta-feira (20), quando deve ser formalizada a nova chapa – o nome que substituirá Eduardo Campos (que já se sabe, será Marina Silva) e do novo vice-presidente.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014



Morte de Eduardo Campos embaralha eleição presidencial

quarta-feira, 13 de agosto de 2014 22:29 [Nenhum Comentário]
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Leandro Amaral
Mesmo sendo vice de Eduardo, Marina ostentava mais intenções de voto do que o titular da chapa. A morte trágica do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, candidato a presidente da República, vítima de um acidente aéreo nesta quarta-feira (13/08) é avaliada como um divisor de águas na sequência da campanha eleitoral. Mesmo em terceiro lugar nas pesquisas e sem alcançar os dois dígitos nos levantamentos, Eduardo representava a novidade e a mudança que poderão ser representados de forma ainda mais emblemático pela a vice, Marina Silva, que foi candidata a presidente em 2010 e obteve cerca de 20 milhões de votos.

Almir Cicote (PSB), vereador de Santo André e candidato a deputado estadual, diz que ainda todos muito abalados. "Anda é cedo para falar de futuro, mas sem dúvida a Marina representará e, muito, a sequência desse projeto", diz o candidato.
Aidan Ravin (PSB), ex-prefeito de Santo André, diz que está em estado de choque. "Ninguém imaginaria que isso fosse acontecer. Agora estamos de luto, mas temos de pensar também na sequência eleitoral e a Marina, sem dúvida, é um nome muito expressivo", destaca Aidan, candidato a deputado federal.

Para o presidente do PT de Santo André, Luiz Turco, candidato a deputado estadual, o momento é de avaliação. "Precisamos aguardar, mas evidentemente altera o cenário. Precisamos ver qual será a reação do PSB", diz. Apesar de Eduardo ser concorrente do PT, Turco lembrou da relação de amizade que o ex-governador tinha com vários petistas, principalmente o ex-presidente Lula.
Com Marina
Mesmo sendo vice de Eduardo, Marina ostentava mais intenções de voto do que o titular da chapa. Porém, pelo desgaste evidenciado entre integrantes do PSB e da Rede, em fase de formação, pode dividir os correligionários no futuro da corrida presidencial. Mas a resistência encontrada possivelmente no ambiente interno contrasta com o clima favorável das ruas. Marina tem uma imagem bem aceita pela população atrelada à ética e aos bons modos da política. "E ela conta ainda com o sentimento de comoção das pessoas e representa a sequência do projeto de renovação estabelecido com o Eduardo Campos", disse um vereador socialista no bastidor.

Sem Eduardo e com Marina, o futuro é incerto porque tudo que é projetado faz parte da futurologia. A única certeza é que nada seguirá igual. Uma nova eleição se iniciou a partir do dia 13 de agosto. Até o fechamento desta reportagem o PSB ainda não havia definido se Marina Silva seria mesmo a candidata.
Especialista diz que Marina não substituirá Eduardo

Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp, avalia que a morte de Eduardo Campos também vai enterrar o fim do Fla-Flu, que se projetava nesta eleição com a terceira via do ex-governador. "Ele não ganharia mas ampliaria muito a base para 2018. Eduardo representava o novo e introduziu oxigênio na política brasileira, pois nos últimos 20 anos só existiu alternância entre PT e PSDB", diz ao acrescentar que agora tudo volta à situação anterior.

Mesmo com a iminente indicação de Marina Silva para o posto, Romano não acredita no mesmo resultado. "Se ela for indicada vai precisar de uma engenharia interna muito grande. E, além disso, ela não tem a abertura e capacidade de diálogo que o Eduardo tinha. Ela tem um eleitorado cativo, mas ela apresenta obstáculos a várias alianças. O Eduardo herdou a capacidade do Miguel Arrais de articulador político e de agregar", completa.
Na avaliação do economista Juliano Ferreira, da Icap Brasil, pesa o fato de Marina ter maior aderência aos eleitores por já ter concorrido à Presidência. "Evidentemente ela é mais conhecida. Todo esse cenário é negativo para Dilma Rousseff. Uma pessoa de maior expressão poderá incorporar mais a ideia de que uma mudança na política seja necessária e que Dilma não seria a pessoa certa para endereçar essas mudanças. O eleitor indeciso com certeza migraria com mais facilidade para Marina Silva", destaca relatório da Icap Brasil.
Em relação a Aécio Neves, Ferreira disse que a situação também tende a se complicar, caso a ex-senadora assuma o papel de candidata do PSB a presidente. Segundo ele, é bem provável que o "split" de Marina para Aécio seja melhor do que a da ex-ministra para Serra em 2010, já que o momento é outro (maior insatisfação). "O problema é que Marina consegue criticar o PSDB de forma bastante dura, nos mesmos moldes que faz contra o PT", explicou.
Mensagens
Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo e presidente do Consórcio Intermunicipal Grande ABC
"Foi com muita tristeza e pesar que recebi a notícia da morte de Eduardo Campos. O País perdeu hoje um dos seus mais talentosos e promissores políticos e eu, um amigo querido e companheiro de lutas. Quis o destino que ele nos deixasse no mesmo 13 de agosto em que se foi o seu avô, Miguel Arraes, personagem fundamental na história política recente do País e no processo de redemocratização brasileiro, de quem Eduardo Campos era o herdeiro político. Nesse momento de dor, me solidarizo com todos que viam em Eduardo um exemplo de político a ser admirado e seguido. E decreto luto oficial por três dias na nossa cidade. A todos os integrantes da família Arraes e ao povo pernambucano meu carinho e minha solidariedade, assim como de todo o povo de São Bernardo do Campo".
Donisete Braga, prefeito de Mauá
"Lamento profundamente o falecimento do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em um acidente aéreo, na manhã desta quarta-feira em Santos. Campos emergiu como uma nova força política nacional a partir de seu Estado, influenciado pela figura ímpar do avô, Miguel Arraes. Neste momento de dor expresso minhas condolências a familiares e amigos."
Paulo Pinheiro, prefeito de São Caetano
"A classe política brasileira está em luto, a população de São Caetano está em luto pela trágica morte de Eduardo Campos (PSB), candidato à presidência da República. Em nome do povo da nossa cidade, deixo os votos de pesar à família de Eduardo Campos, uma perda imensurável para o debate político nacional, por sua postura democrática e visão republicana. Que Deus possa confortar a todos."
Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo pelo PT
"A morte de Eduardo é uma tragédia em todos os aspectos, para a família, amigos e para o país, que perde um político sério e comprometido com seus princípios. E é um enorme baque para os políticos da minha geração. Fomos companheiros na equipe do presidente Lula, convivi muito com ele e com a sua família. Éramos amigos. Neste momento o que podemos fazer é estarmos próximos aos familiares dele, da esposa Renata, da sua mãe Ana Arraes, de seu pequeno Miguel e demais filhos, Maria Eduarda, João, Pedro e José."
Paulo Skaf, candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB
"O Brasil perdeu hoje um grande estadista, um homem público da maior qualidade, que exerceu a política com competência, honestidade e dedicação. Eu perdi um amigo, com quem tive a honra de conviver. Eduardo Campos foi um dos incentivadores de meu ingresso na política. Há cinco anos, iniciei minha trajetória política em seu partido, o PSB. Quero me solidarizar com sua família e seus amigos. Quero me solidarizar também com o povo de Pernambuco pela perda de seu grande líder."